Jenifer 22/12/2020
Biel terminou o namoro com uma mulher que convivia
com ele há muitos anos. Estava cansado da chatice dos papos de falta de
dinheiro, problemas de trabalho, compra de gás, doenças e todos os dias era a
mesma conversa. Chegaram a um acordo e terminaram. Ponto final no
relacionamento do Biel.
Meses depois Biel tomou a decisão de instalar o aplicativo Tinder em seu celular. Estava decidido a encontrar alguém legal. Sabia que a cada dez pessoas nove só procuravam sexo, mas havia esperança.
Começou a procurar, essa sim, essa não... Uma era fútil demais, a outra interesseira, uma outra muito parecida com sua ex... cada dia que passava a frustração só aumentava. Foi então que ele optou em escolher as mulheres fora do padrão de beleza imposto pela sociedade. Qual era o problema em se relacionar com uma mulher alta demais? Baixa demais? Gorda? Tatuada?
Biel saiu com uma hippie. Mas seus ideais eram contrários. A baixa dizia o tempo todo que ele era muito grande. A gorda não estava bem resolvida com o corpo. Mas apareceu Jenifer. Morena, baixinha, gordinha, algumas tatuagens, com uma cabeça bem leve. Totalmente diferente da sua ex.
Jenifer trabalhava com várias coisas... Cozinhava para um restaurante famoso da cidade, fazia doces para doar para as pessoas tristes da clínica que ela era voluntária. Fotografava os negros do movimento Black Power. Levava visitantes para a aldeia hippie e os incentivava a comprarem seus artesanatos.
Jenifer adorava uma balada, não bebia, não fumava, não julgava quem fazia isso. Então em uma dessas noites que saiu com Biel, encontraram a ex dele que esbravejou horrores: “Como Biel tinha a capacidade de se envolver com alguém feito a mulher que estava com ele e onde tinha encontrado aquela criatura”?
Biel partiu para cima na defesa de sua “amiga”:
− Vamos parar por aí. O nome dela é Jenifer. Eu a encontrei no Tinder. Ela faz umas paradas que você nunca fez. Não é minha namorada, mas bem que poderia ser... Mas só ela vai decidir isso. Ela é livre, divertida, trabalha pelo bem dela e de outras pessoas... tão diferente de você.
Não pensem que Jenifer era diferente porque era uma mulher de aplicativo. E o que ela fazia era radical. Não. Ela curtia a vida da maneira que bem entendia e fazia somente aquilo que queria. Ninguém a obrigava a nada. O diferencial estava nisso. Ela era incomum. Ela era uma mulher bem resolvida. Uma mulher de alto valor. Ela era feliz.
A amizade de Biel e Jenifer se fortaleceu, mas
nunca se envolveram fisicamente. Ele passou a ser uma pessoa melhor, mais amável,
compreensivo e querido por todos. E nada de chamar de forma pejorativa: “O nome
dela é Jenifer”!
PS: Uma homenagem a Gabriel Diniz (1990-2019)
Texto: Sônia Macêdo