Rita (17/12/2020)
Você com certeza já ouviu falar de Rita... Se
não ouviu, vai conhecer a história dela agora. A versão que contam por aí é a versão
do marido dela. Dizem que ele levou uma facada e que a ausência dela está
fazendo mais estrago que a traição. TRAIÇÃO! Ele teve a cara de pau de se fazer
de vítima e dizer que foi traído e ferido. Me poupe. Vou contar o que
aconteceu.
Rita era uma mocinha inocente quando conheceu o
“Zé” na paróquia da cidade. Um rapagão, daqueles que faz qualquer mocinha
suspirar... Um físico maravilhoso, um bom papo e tinha algumas posses. Não demorou
muito para que os dois se envolvessem.
“Zé” acompanhava Rita até o trabalho todos os
dias, às vezes na ida, outras na volta. Procurava almoçar com ela quase todos
os dias. Frequentava a casa da moça e a família dela gostava muito dele. Ele na
verdade se mostrava o perfeito cavalheiro.
O que ninguém desconfiava era que isso ia além
de cuidado. “Zé” era possessivo, machista e adorava humilhar as pessoas, claro
que tudo isso longe das vistas da família de Rita. Ele era manipulador. Adorava
fazer uma lavagem cerebral nas pessoas e induzir a culpa a quem nada tinha com
isso.
Rita foi a vítima de “Zé” que causou estrago.
Eles se casaram depois de seis meses de namoro,
onde ele forçava a barra para que ela cedesse aos desejos mais obscuros dele. Mas
ela conseguiu controlar até o casamento.
A noite de núpcias respondeu além das expectativas
dela. Foi tudo lindo, inenarrável. Rita e “Zé” exibiam felicidade. As pessoas
sentiam inveja quando viam os dois na rua. Eles se beijavam, andavam de mãos
dadas, ele cuidava dela e ela dele. Faziam o trabalho de casa juntos, até que o
carteiro chegou e Rita abriu a porta.
− Rita? Lembra de mim? Isaías. Estudamos juntos
no infantil. Faz tempo isso.
− Nossa! Quanto tempo...
E por encontrar o velho amiga, Rita não
resistiu e abraçou o carteiro. “Zé” via e ouvia tudo do andar de cima... E não
pensou duas vezes. Desceu as escadas a toda velocidade, esperou o carteiro sair
e bateu em Rita.
Isso mesmo, caros leitores. Ele bateu em Rita.
Um olho roxo foi o resultado disso tudo. Várias
tentativas de disfarce no trabalho. “A caixa caiu em cima de mim”, “A travessa
caiu, quando abri o armário” ... Aquelas desculpas que já estamos cansados de
ouvir.
Quando Rita chegou em casa, seu marido querido,
esperava com flores e com a casa toda preparada para uma noite romântica.
− Me perdoa meu amor... Eu estive pensando...
Por que você não pede demissão? Podemos viver tão bem com meu dinheiro...
E a Rita... Bem, ela pediu demissão no dia seguinte.
O chefe implorou para que ficasse, mas ela não mudou de ideia. Fez a vontade de
“Zé”. E voltou para casa para contar a novidade. Ele mostrou-se muito feliz com
tudo isso.
Não demorou muito para “Zé” sair para trabalhar
e deixar Rita presa em casa. Dizendo ele que acidentalmente levou as duas pencas
de chaves. E é claro que você não vai acreditar nisso, né? Isso se repetiu várias
vezes. Uma vez em cada mês, depois uma vez na semana e mais tarde:
− Para que você quer a chave, se não vai a lugar
algum? Tem tudo o que precisa aqui. Aquele rapaz não vai mais importunar você,
pois agora temos uma caixa postal, eu passo lá toda sexta. Vou levar as chaves.
Rita não acreditou no que acabara de ouvir. Tentou
ligar para as irmãs, mas o telefone estava bloqueado, apenas recebendo as
chamadas. Principalmente as chamadas de “Zé” que ele fazia a cada duas horas ao
longo do dia.
Sem celular, sem sair, sem ver ninguém, Rita
agora era uma prisioneira. Isso mesmo. Estava em cárcere privado.
Certo dia, “Zé” demorou a chegar, e quando o
fez estava embriagado. Quando ela questionou sobre a demora, ele não pensou
duas vezes e bateu muito em Rita. Olho roxo, braço quebrado, desconfiava também
de algumas costelas quebradas.
No hospital, a conversa era que ela havia caído
da escada e estava desacordada quando ele chegou. A sós com o médico, ela
contou o que havia acontecido e a polícia foi acionada. Lei Maria da Penha no
safado.
Uma grana para o carcereiro e “Zé” conseguiu
sair. Com a conversa fiada de que a mulher era alcoólatra, preguiçosa e que só
servia na cama.
Encontrou Rita sozinha em casa... A briga
estava formada. Gritos, pontapés e tantas outras agressões. Rita pegou a faca
de cozinha e acertou em cheio na barriga de “Zé”.
Fugiu. Pegou carona com o primeiro caminhoneiro
que passou e até hoje ninguém sabe dela. Dizem que recebeu ajuda e mudou-se
para o exterior com outro nome. E o desinfeliz do “Zé” vive gritando a plenos
pulmões:
− Oh, Rita, volta desgramada. Volta Rita que eu
perdoou a facada.
Segue em frente Rita. Não volta não. Vai viver sua
vida longe desse vigarista.
3 comments:
Muito bom!
Texto bem escrito, gostoso de ler.
Parabéns!! Essa é a realidade de muitas mulheres.
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